“Premonição 6” deita e rola na anarquia e no humor

Se você é fã da série Premonição, sabe que a fórmula já é bem conhecida: alguém tem uma visão ou premonição de uma morte iminente, consegue evitar o desastre, mas a morte não se dá por vencida e persegue cada pessoa que deveria ter morrido naquela ocasião, executando-as de formas cada vez mais criativas e horripilantes. Quatorze anos após o lançamento de Premonição 5, a franquia ressurgiu com Premonição 6: Laços de Sangue, dirigido por Adam B. Stein e Zach Lipovsky, que trouxe uma nova energia para a série, colocando-a no topo das bilheterias e, na minha opinião, entregando o melhor filme de todos os seis lançados até agora.

Uma nova roupagem para uma fórmula clássica

O que chama a atenção logo de cara em Premonição 6 é o respeito à estrutura original da série, mas com uma vontade clara de quebrar o cânone e dar uma cara nova à franquia. Os diretores, fãs assumidos da saga, conseguiram renovar o conceito sem perder a essência que conquistou os espectadores ao longo dos anos. É quase como se a série estivesse recomeçando, com um espírito anárquico e inventivo que contagia o filme desde a sua primeira cena.

O prólogo: um espetáculo de absurdos e engenhosidade

A abertura do filme é, sem dúvida, um dos pontos altos: um casal nos anos 1960 vai jantar no restaurante Skyview, um lugar recém-inaugurado no topo de uma coluna altíssima, com vista panorâmica. A cena é um festival de detalhes — uma moeda de centavo, um menino malcriado e uma sequência de eventos que desencadeiam uma série de desgraças em efeito dominó. Essa meia hora inicial é uma mistura de absurdo, complexidade, ludicidade e humor, que me fez gargalhar diversas vezes. É como se Stein e Lipovsky tivessem decidido “tocar fogo nessa bagaça”, trazendo um frescor que faltava à franquia.

História principal: Laços de sangue e mortes absurdas

Após o prólogo, entramos na trama central, que gira em torno de uma família que está sendo perseguida pela morte. A protagonista é uma adolescente recém-chegada à universidade, que descobre o padrão macabro, mas enfrenta o ceticismo dos parentes, incluindo uma avó reclusa e instável. O conflito familiar traz um tempero extra, embora, em alguns momentos, essa parte da narrativa se torne um pouco cansativa e menos original, o que acaba segurando um pouco o ritmo do filme.

No entanto, quando o filme retoma o foco nas mortes, ele brilha com sequências absolutamente memoráveis e inventivas. As minhas favoritas são as mortes envolvendo um caminhão de lixo e uma ressonância magnética — ambas recheadas de pistas falsas que mantêm o espectador na dúvida sobre o que vai acontecer, culminando em cenas que surpreendem pela criatividade e brutalidade. É evidente que os diretores estavam se divertindo ao criar essas armadilhas visuais e narrativas.

Visual e ritmo: uma experiência estilizada

O visual do filme é quase estilizado, com uma exuberância que reforça o tom lúdico e anárquico da produção. Essa escolha estética ajuda a transformar as cenas de morte em um espetáculo quase teatral, que faz parte da brincadeira e não apenas do terror. O ritmo do filme é quase impecável, mantendo o espectador atento e entretido, mesmo com as breves pausas na história de família. É um equilíbrio delicado, que os diretores conseguem sustentar com maestria.

Elenco e participações especiais

O elenco cumpre bem o seu papel, sem grandes atuações que se destaquem, mas com personagens críveis dentro do contexto da franquia. Destaco a atuação de Brec Basinger como Iris, a personagem do prólogo, e Richard Harmon como Eric, o irmão mais velho da família central. Ambos entregam performances sólidas que ajudam a ancorar a narrativa.

Um ponto emocionantemente especial é a participação do ator Tony Todd, que interpreta JB, um personagem recorrente na série. Este é o último papel de Todd antes de sua morte, e os diretores deram a ele total liberdade para conduzir sua cena, permitindo que suas últimas palavras no filme fossem recados que ele próprio escolheu entregar ao público. Isso confere um peso emocional extra à produção e serve como uma bela homenagem a um ícone do gênero.

Trilha sonora: o gosto musical que complementa a atmosfera

Outro aspecto que merece destaque é a escolha da trilha sonora. As faixas selecionadas pelos diretores, como Bad Moon Rising e Ring of Fire, não só complementam as cenas, mas também ajudam a criar uma atmosfera que equilibra tensão, humor e nostalgia. O uso inteligente da música contribui para o ritmo do filme e para o envolvimento do público, reforçando o tom irreverente e divertido da produção.

Comparação com os filmes anteriores da franquia

Se compararmos Premonição 6 com seus predecessores, fica claro por que ele se destaca. Os filmes anteriores, especialmente o segundo, terceiro, quarto e quinto, seguiam uma fórmula repetitiva que, para muitos fãs, já começava a cansar. A sensação era de “mais do mesmo”, sem grandes inovações ou surpresas. Eu mesmo demorei para me animar a assistir a este novo capítulo, mas acabei passando duas horas muito divertidas, o que mostra o quanto o filme conseguiu reanimar a franquia.

Enquanto os anteriores apostavam na previsibilidade e no terror mais direto, Premonição 6 traz uma abordagem mais ousada, com humor, absurdo e uma edição que valoriza o timing das cenas de morte. É como se a série tivesse ganhado uma nova vida, uma nova identidade que a torna relevante novamente no cenário do terror moderno.

Prós e contras de “Premonição 6: Laços de Sangue”

  • Prós: Roteiro engenhoso que mistura absurdo e humor; visual estilizado e exuberante; ritmo dinâmico; cenas de morte criativas e surpreendentes; trilha sonora de excelente gosto; homenagem emocionante a Tony Todd.
  • Contras: A parte da história de família é pouco original e, em alguns momentos, desacelera o ritmo do filme; elenco competente, mas sem atuações memoráveis além das já citadas.

Para quem é “Premonição 6”?

Se você gosta de filmes de terror que fogem do lugar-comum, que misturam sustos com humor e criatividade, Premonição 6: Laços de Sangue é uma excelente pedida. É também indicado para aqueles que acompanharam a série desde o início e estão cansados da repetição, pois este filme oferece um frescor necessário. Para quem busca apenas um terror sério e pesado, talvez o tom anárquico e lúdico não agrade tanto, mas a diversão está garantida para quem se permite entrar na brincadeira.

Considerações finais e recomendação

“Premonição 6: Laços de Sangue” é uma revitalização bem-vinda de uma franquia que parecia ter esgotado suas possibilidades. Com diretores apaixonados pelo material e dispostos a inovar, o filme entrega uma experiência que é ao mesmo tempo divertida, surpreendente e visualmente impactante. A combinação de humor, absurdos e mortes criativas torna este o melhor filme da série até hoje, e a maior bilheteria da franquia só confirma que o público também aprovou essa nova fase.

Se você ainda não assistiu, recomendo fortemente que reserve um tempo para essa sessão. Prepare-se para rir, se surpreender e, claro, se assustar com as artimanhas da morte. E, claro, para os fãs, é uma forma emocionante de se despedir do lendário Tony Todd, cuja presença marca este capítulo final da série.

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