Como Treinar o Seu Dragão, a animação luminosa lançada pela DreamWorks em 2010, que adaptou com muito carinho o primeiro livro da série infantil da escritora inglesa Cressida Cowell. A autora, que passou várias férias numa ilha isolada na Escócia, sem eletricidade ou telefone, acreditava piamente na existência dos dragões, e essa vivacidade da imaginação é o coração pulsante da história. Essa essência foi plenamente capturada na animação dirigida por Dean DeBlois e Chris Sanders, os mesmos responsáveis pelo sucesso de Lilo & Stitch em 2002.
Agora, em 2025, Como Treinar o Seu Dragão ganha uma versão live action, que estreia nos cinemas simultaneamente com o live action de Lilo & Stitch, outro filme querido e muito elogiado pelas crianças. Mas o que torna essa nova versão do dragão tão especial? Por que refazer algo tão perfeito quanto a animação original?
É uma pergunta legítima: se a animação de 2010 é tão impecável, por que mexer nela? A resposta está no tempo e nas gerações. Já se passaram quinze anos desde a estreia do filme animado, o que, no universo da cultura pop e da infância, é praticamente uma era geológica. Muitas crianças de hoje simplesmente não conhecem a história do Soluço Spantosicus Strondus III, o menino viking magrinho, medroso e desajeitado que é a grande decepção do pai, o estoico chefe da vila de Berk.
Para essas novas gerações, o live action serve como uma ponte para apresentar essa narrativa mágica, que mistura aventura, imaginação e uma mensagem poderosa sobre empatia e coragem. Além disso, o formato permite explorar a história com outra profundidade, usando atores reais, cenários naturais e efeitos visuais de última geração para tornar o mundo dos dragões ainda mais palpável e emocionante.
O enredo permanece fiel ao original: Soluço, um garoto que não se encaixa no estereótipo do viking guerreiro, vive numa vila onde a tradição manda matar dragões. Porém, ele é diferente — engenhoso, curioso e gentil. Quando consegue capturar um dragão raro e temido chamado Fúria da Noite, que ninguém jamais viu direito, Soluço descobre que o animal é ferido e decide ajudá-lo em vez de matá-lo.
Esse gesto de amizade muda tudo. Com o dragão, que ele chama carinhosamente de Banguela, Soluço começa a questionar as tradições da vila e a entender que os dragões não são inimigos, mas vítimas de uma ameaça maior. É uma história que fala sobre quebrar regras antigas, criar novas possibilidades e enxergar o mundo com olhos diferentes — um tema que ressoa muito bem com crianças e adultos.
Um dos grandes trunfos dessa nova versão são os efeitos visuais. Os dragões agora são representados de forma muito mais realista, com texturas, movimentos e detalhes que os tornam quase palpáveis. O cenário escolhido para a filmagem é uma costa escarpada na Irlanda, que oferece uma paisagem natural exuberante e dramática, perfeita para as aventuras de Soluço e Banguela.
Essa combinação de cenários reais com computação gráfica de ponta cria um ambiente imersivo, onde a fantasia e a realidade se misturam de forma harmoniosa. As cenas de voo dos dragões são verdadeiros sonhos visuais — emocionantes, fluidas e cheias de energia, o que eleva a experiência do espectador a outro nível.
O elenco do live action é outro ponto alto. Mason Thames, que interpreta Soluço, traz uma melancolia sutil ao personagem, que casa perfeitamente com a história de um garoto que busca seu lugar num mundo que não entende. Ele ganha ainda mais profundidade em comparação com a versão animada, graças à interpretação em carne e osso.
Nico Parker é Astrid, a viking em treinamento e grande paixão de Soluço, e sua química com Mason é palpável e convincente. Para quem não lembra, Nico Parker é a filha do ator Joel Edgerton e já mostrou seu talento em filmes como The Last Van.
Gerard Butler, que já emprestava sua voz ao personagem Estoico nas animações, agora vive o chefe da vila em carne e osso. Seu desempenho é mais caloroso e humano, trazendo uma nova dimensão à figura paterna rígida e tradicional. Outro destaque é Nick Frost, que interpreta o ferreiro Bocão, uma espécie de mentor e cuidador de Soluço, com um toque de humor e ternura que equilibra bem a narrativa.
Embora o live action seja fiel à animação, ele traz algumas novidades que enriquecem a história. O relacionamento entre Estoico e Soluço é mais explorado, mostrando nuances e conflitos que aprofundam a dinâmica familiar. A sequência inicial do ataque dos dragões é transformada numa cena de ação intensa e bem coreografada, que prende a atenção desde o primeiro momento.
Além disso, o roteiro apresenta composições visuais mais ousadas e inspiradas, aproveitando a liberdade do live action para criar momentos que a animação não poderia alcançar com a mesma intensidade. Essa atualização visual e narrativa torna o filme atraente tanto para quem já conhece a história quanto para quem está vendo pela primeira vez.
O que torna Como Treinar o Seu Dragão tão especial é a sensação de liberdade e imaginação que ele proporciona. É um convite para questionar regras, para reinventar o que nos foi imposto e para acreditar que podemos criar um mundo melhor com empatia e coragem.
A figura do dragão, que poderia ser apenas um monstro a ser derrotado, ganha uma nova dimensão de amigo, parceiro e símbolo de transformação. Essa mensagem é universal e atemporal, e por isso a franquia permanece tão relevante, mesmo depois de tantos anos.
Como Treinar o Seu Dragão em sua versão live action é um exemplo raro de adaptação que respeita e honra sua fonte original, ao mesmo tempo em que acrescenta valor e novidade. A direção de Dean DeBlois, que já havia dirigido a animação, é cuidadosa e apaixonada, garantindo que a essência da história não se perca.
O elenco entrega performances sólidas e envolventes, o visual é de tirar o fôlego, e a narrativa mantém a magia e a profundidade que fizeram do filme animado um clássico contemporâneo. Se você gosta de histórias que combinam fantasia, aventura e emoção, este filme é uma escolha certeira.