O filme Os Enforcados, dirigido por Fernando Coimbra, estreia nos cinemas brasileiros e retoma a parceria entre Leandra Leal e Irandhir Santos. Conhecido por O Lobo Atrás da Porta e trabalhos no mercado internacional, Coimbra retorna a um cenário profundamente brasileiro para construir um thriller moral e violento que dialoga direta e indiretamente com a dramaturgia de Shakespeare.
- Direção: Fernando Coimbra
- Elenco principal: Leandra Leal, Irandhir Santos, Stepan Nercessian, Irene Ravache, Thiago Thomé, Pêpê Rapazote
- Gênero: Thriller policial / drama psicológico
- Ambientação: Rio de Janeiro (mais interiores e sombras do que paisagens ensolaradas)
- Temas centrais: ambição, culpa, queda moral, violência real versus fantasia, dinâmicas familiares criminosas (jogo do bicho)
- Tom: fatalista, cínico, com humor perverso
- Disponibilidade: em cartaz nos cinemas
Regina e Valério retornam ao Rio de Janeiro após anos em Miami. Ele assume a parte herdada nos negócios da família ligados ao jogo do bicho, mas logo percebe que o verdadeiro poder está nas mãos do tio Lind Duarte (Stepan Nercessian).
O casal suspeita de envolvimento do tio na morte do pai de Valério e, em meio a ameaças e recursos minguando, decide agir. A escolha desencadeia uma espiral de violência e tragédia da qual não há saída fácil.
Embora não seja uma adaptação direta, o longa utiliza estruturas e símbolos da obra de Shakespeare:
- Macbeth: Regina assume o papel de catalisadora da ruína, ecoando a figura de Lady Macbeth.
- Hamlet: A dinâmica do tio que usurpa poder e manipula o herdeiro remete ao conflito clássico.
- Titus Andronicus: A cena do banquete dialoga com a teatralidade brutal da peça.
- Leandra Leal entrega a performance mais intensa do filme, conduzindo o motor emocional da trama.
- Irandhir Santos interpreta Valério, personagem que passa de hesitante a ambicioso herdeiro do crime.
- Stepan Nercessian constrói um antagonista sólido, enquanto Irene Ravache adiciona nuances cômicas com leituras de tarô.
A direção imprime ritmo acelerado, como uma locomotiva sem freio. A fotografia aposta em interiores escuros e cores saturadas, criando uma atmosfera sufocante. O contraste entre as lembranças de Miami e a realidade violenta do Rio acentua o choque entre fantasia e brutalidade.
O longa mantém clima fatalista e cínico, intercalado com humor perverso. Essa mistura gera tensão constante e pode causar desconforto em parte do público — mas é justamente essa intensidade que o torna marcante.
Comparado a O Lobo Atrás da Porta e às séries internacionais dirigidas por Coimbra (Narcos, Perry Mason), Os Enforcados reforça a habilidade do cineasta em lidar com temas sombrios e moralmente ambíguos, agora em um recorte mais brasileiro e íntimo.
Prós
- Atuação de alto nível, especialmente de Leandra Leal.
- Direção firme e ritmo envolvente.
- Referências shakespearianas que enriquecem a trama.
- Fotografia claustrofóbica que reforça a tensão.
Contras
- A violência explícita pode afastar parte do público.
- O tom cínico e pessimista pode não agradar quem busca entretenimento leve.
Os Enforcados é indicado para quem aprecia cinema brasileiro contemporâneo, tragédias modernas e narrativas inspiradas em Shakespeare. Não é recomendado para quem procura histórias leves ou finais otimistas.
O filme está em cartaz nos cinemas. Os preços variam conforme a rede, cidade e sessão; recomenda-se consultar a programação local.
Fernando Coimbra entrega com Os Enforcados um thriller moral poderoso, conduzido por atuações intensas e uma direção que não dá espaço para respiro. É uma experiência cinematográfica forte, que desafia o espectador com violência, culpa e ambição.
Recomendação final: assistir nos cinemas, preparado para uma jornada densa e inesquecível.