Amores Materialistas: o romantismo lúcido da diretora de “Vidas Passadas”

Celine Song, que já havia mostrado sua sensibilidade para o amor e a idealização no aclamado Vidas Passadas, retorna com seu segundo longa-metragem como roteirista e diretora em Amores Materialistas. Lançado no Brasil em 30 de julho, o filme revela não apenas a complexidade dos sentimentos, mas também a intrincada política econômica que permeia os relacionamentos duradouros, especialmente o casamento.

Uma abordagem diferente do romance

Quem assistiu aos trailers pode ter imaginado uma comédia romântica tradicional, mas Amores Materialistas vai muito além disso. O filme é leve e gracioso, mas sua profundidade surpreende, explorando as nuances das relações amorosas com uma perspectiva realista e crítica.

A protagonista, Lucy, interpretada por Dakota Johnson, é uma especialista em casamentos profissionais em Nova Iorque. Seu trabalho consiste em atender um público seletíssimo e endinheirado que busca algo além do que aplicativos de relacionamento podem oferecer. Lucy lida com clientes cujas listas de exigências são meticulosamente detalhadas — idade, altura, salário, profissão, presença ou ausência de cabelo, peso — e, ao longo do filme, suas conversas com esses clientes revelam muito sobre as expectativas e pressões sociais em torno do amor e do casamento.

O “unicórnio” e o passado que não desaparece

Em uma festa de casamento de uma cliente, Lucy conhece Henry, personagem de Pedro Pascal, que representa o chamado “unicórnio” na agência: alto, rico, bonito, com bons dentes e cabelo, respeitoso, uma companhia perfeita. No mesmo evento, reencontra John (Chris Evans), um eterno aspirante a ator que trabalha como garçom. O contraste entre esses dois homens é o coração do filme.

É importante notar que a diretora Celine Song evita criar uma química romântica entre Lucy e Henry. Eles começam a se relacionar porque compartilham afinidades e podem oferecer um ao outro o que buscam em um relacionamento estável, seja material ou emocional. Já a relação entre Lucy e John é carregada de paixão e história, mas marcada por desafios financeiros.

Uma química inegável

Desde o primeiro momento em que Lucy e John aparecem juntos, a química é explosiva, como quando se joga Mentos na Coca-Cola. A conexão antiga entre eles é palpável, e rapidamente entendemos os obstáculos que impediram que o relacionamento desse certo no passado.

A complexidade do amor materialista

Lucy não esconde sua ambição e materialismo, traços que, dirigidos com maestria por Celine Song e interpretados brilhantemente por Dakota Johnson, não geram aversão, mas sim admiração. É um autoconhecimento que torna a personagem ainda mais atraente e real.

A linguagem visual do filme reforça essa dualidade. As cenas com Pedro Pascal são filmadas de frente, simbolizando o início e a distância emocional, enquanto as cenas com Chris Evans têm uma câmera envolvente e íntima, refletindo a intensidade e proximidade do passado compartilhado.

Equilibrando paixão e pragmatismo

O filme levanta questões fundamentais: como equilibrar sentimentos e realidades práticas? Como lidar com a ausência de paixão em um relacionamento estável e financeiramente seguro, ou com a paixão em meio à instabilidade econômica? Essas não são questões superficiais, mas centrais para entender a dinâmica das relações humanas nos dias de hoje.

O olhar atento sobre as mulheres e suas escolhas

Celine Song também aborda a complexidade da busca amorosa feminina, mostrando quantos riscos as mulheres enfrentam nesse processo. Através das experiências de uma cliente de Lucy, o filme traz uma perspectiva realista e pesada, que foge completamente de clichês de comédia romântica.

Conclusão: um romantismo lúcido e envolvente

Amores Materialistas é um filme que combina inteligência, perspicácia e leveza para discutir o amor em sua forma mais complexa e atual. Celine Song entrega uma obra que não foge das contradições e dos desafios do amor duradouro, mas que também celebra a beleza de se apaixonar e ser amado.

Para quem busca um filme que vá além do convencional, que mistura romance, crítica social e uma análise profunda das relações humanas, Amores Materialistas é uma escolha certeira. Dakota Johnson, Chris Evans e Pedro Pascal entregam atuações que tornam essa história ainda mais cativante e verdadeira.

Em um mundo onde o materialismo e o romantismo se entrelaçam, Celine Song mostra que é possível ser uma romântica lúcida, alguém que vê os pontos de atrito, mas não perde a fé na força do amor.

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