Se você é fã de body horror, prepare-se para uma experiência intensa e grotesca com “A Substância”. Este filme, dirigido por Coralie Fargeat, é uma obra que se destaca por sua radicalidade e pelo impacto que provoca, especialmente durante as duas primeiras horas. O filme, que já está em cartaz nos cinemas, apresenta uma crítica afiada aos padrões de beleza impostos pela sociedade e à autodesvalorização feminina.
A trama gira em torno de Elizabeth Sparkel, interpretada por Demi Moore, uma ex-estrela que caiu em desgraça e agora apresenta um programa de fitness na televisão. A diretora Coralie Fargeat ilustra brilhantemente a trajetória de Elizabeth, começando com a instalação de sua estrela na Calçada da Fama, uma celebração que logo se transforma em um retrato da deterioração e do esquecimento.
Quando Elizabeth ouve seu chefe, interpretado por Dennis Quaid, fazendo comentários cruéis sobre sua aparência e idade, ela entra em colapso. Após um acidente, ela se vê envolvida em uma intervenção estética extrema, que é a essência da “substância” do título. A partir daqui, a narrativa se torna uma exploração grotesca da luta de Elizabeth contra a passagem do tempo e a pressão social para manter a juventude.
O filme é uma montanha-russa de emoções e imagens perturbadoras. A “substância” permite que Elizabeth injete um líquido que a transforma em uma versão mais jovem e atraente de si mesma, chamada Sue, interpretada por Margaret Qualley. As cenas em que Elizabeth dá à luz a Sue são de tirar o fôlego, marcando o início de uma espiral de horror que vai além do físico.
Através de um uso intenso de close-ups e ângulos distorcidos, Fargeat cria uma experiência sensorial que desafia o espectador a confrontar a repugnância e a beleza de forma simultânea. O filme não é apenas sobre a transformação física, mas também sobre a autodesvalorização e a misoginia internalizada que muitas mulheres enfrentam.
A personagem de Elizabeth é uma representação vívida da luta contra os padrões de beleza. Ela é uma “rainha da Branca de Neve” moderna, que, em vez de perguntar ao espelho se há alguém mais bonita, questiona-se sobre quem é mais decrepito. A beleza de Demi Moore, mesmo em sua idade, acentua a crueldade do que sua personagem enfrenta.
O filme também aborda a misoginia de forma crua, desde o desprezo do diretor até a autocrítica que Elizabeth internaliza. A relação entre Elizabeth e Sue se torna uma feroz rivalidade, refletindo a luta interna que muitas mulheres enfrentam em busca de aceitação e validação.
Coralie Fargeat, em sua estreia como diretora de longa-metragem, traz uma visão audaciosa e única para “A Substância”. Seu estilo visual é quase alucinatório, utilizando cores ácidas e uma edição de som que amplifica cada ruído, criando um ataque sensorial que mergulha o espectador na mente perturbada de Elizabeth.
A comparação com Stanley Kubrick é audaciosa, mas não sem mérito. Assim como em “Laranja Mecânica”, Fargeat utiliza a estética para fazer uma crítica social poderosa, subvertendo o que tradicionalmente se espera do gênero de horror corporal, que historicamente tem sido dominado por uma perspectiva masculina.
Demi Moore entrega uma performance que vai além do esperado, mostrando sua vulnerabilidade e força em um papel que exige coragem emocional. A luta interna de Elizabeth é palpável, especialmente em cenas onde ela se confronta com seu reflexo no espelho, revelando a monstruosidade que a pressão social pode criar dentro de uma mulher.
Margaret Qualley também brilha como Sue, representando a juventude e a beleza de uma maneira que se torna cada vez mais grotesca à medida que a história avança. A relação entre as duas personagens é complexa e serve como uma crítica ao sistema que perpetua a rivalidade entre mulheres.
Embora “A Substância” possa lembrar filmes como “A Mosca” de David Cronenberg, ele se destaca por seu foco nas questões femininas. A tirania dos padrões de beleza é um tema central, mas Fargeat também explora a autodesvalorização e a misoginia de uma maneira que ressoa profundamente com o público contemporâneo.
O filme não apenas retrata a luta de Elizabeth, mas também questiona o que significa ser uma mulher em uma sociedade que valoriza a juventude acima de tudo. A jornada de Elizabeth é um reflexo da experiência de muitas mulheres, tornando “A Substância” uma crítica social poderosa.
- Prós:
- Direção ousada e visualmente impactante.
- Performances poderosas, especialmente de Demi Moore.
- Crítica afiada aos padrões de beleza e misoginia.
- Contras:
- Algumas cenas podem ser extremamente perturbadoras.
- A narrativa pode ser considerada excessivamente grotesca para alguns espectadores.
“A Substância” é um filme que não se compromete em sua exploração do horror corporal e social. É uma obra que desafia o espectador a confrontar suas próprias percepções sobre beleza e envelhecimento. Se você está preparado para uma experiência intensa e provocativa, este filme é altamente recomendável.
Se você é fã de horror e está em busca de algo que vá além do entretenimento superficial, “A Substância” é uma escolha que certamente deixará uma marca. Prepare-se para ser desafiado e, possivelmente, transformado por esta obra impressionante.