Extermínio: A Evolução: Um filme que se reinventa e radicaliza

“Extermínio: A Evolução” (28 Years Later) chega aos cinemas como uma sequência que não apenas honra o legado do clássico original de 2002, mas também expande e aprofunda o universo apocalíptico criado por Danny Boyle. Dirigido pelo próprio Boyle, com roteiro de Alex Garland, o filme traz uma narrativa intensa, repleta de ideias contemporâneas e uma execução técnica impressionante. Aqui, mergulho na essência desse filme que vem para revolucionar novamente o gênero do apocalipse zumbi.

Prólogo Impactante: Abertura que Enfia o Pé na Porta

O filme começa com uma cena que já captura o espectador pela tensão e criatividade: um grupo de crianças trancadas em um quarto, assistindo Teletubbies enquanto o apocalipse zumbi explode lá fora. A mistura dos sons do apocalipse com o áudio infantil é simplesmente brilhante, criando um contraste perturbador que remete ao clima do primeiro “Extermínio” (2002), quando Cillian Murphy acordava em um hospital para encontrar Londres deserta e devastada.

Contexto e Legado: O Que Veio Antes

O original, intitulado “28 Days Later”, foi uma revolução no gênero zumbi — uma metáfora poderosa para a degradação social e uma nova forma de tratar a infestação viral como uma fúria incontrolável. O segundo filme, “28 Weeks Later” (2007), embora competente, não alcançou a mesma marca por não contar com a direção de Boyle nem o roteiro de Garland. Agora, duas décadas depois, “28 Years Later” retoma o universo com um olhar renovado e uma proposta ousada.

Personagens e Enredo: Uma Nova Geração na Ilha Sagrada

O protagonista é Spike, um garoto de 12 anos interpretado pelo brilhante Alfie Williams. Ele vive com seus pais, Jamie (Aaron Taylor-Johnson) e Ayla (Julie Coleman), em uma comunidade isolada na chamada Holle Island, uma ilha de maré real localizada na costa de Northumberland, Inglaterra. Essa comunidade é uma espécie de santuário, isolada do restante do mundo que sucumbe ao vírus.

O ritual de iniciação de Spike, em que ele sai pela primeira vez para além das muralhas da comunidade, é o ponto central do filme. A saída traz revelações duras e abala mitos familiares e sociais: o mito do pai protetor, do isolamento seguro e da inevitabilidade do destino, especialmente em relação à doença misteriosa que aflige Ayla.

Temas Profundos e Relevantes: Brexit, Pandemia e Isolamento

“Extermínio: A Evolução” não é apenas um filme de terror ou ação. Ele carrega reflexões políticas e sociais muito atuais. A epidemia está confinada às ilhas britânicas, enquanto o continente europeu consegue se proteger. Isso evoca diretamente o contexto do Brexit, com a Inglaterra abandonada à própria sorte e em rápida regressão.

Além disso, a narrativa dialoga com a pandemia de COVID-19 e os efeitos de um país em calamidade, isolado e negligenciado pelo resto do mundo. Essa camada de realismo e crítica social dá profundidade ao terror e à violência, criando um contraste poderoso com o amor e a ternura no centro da história — especialmente o amor inabalável de Spike por sua mãe.

Personagens Secundários e Complexidade Emocional

Um destaque especial é o personagem do Dr. Kelson, interpretado por Ray Fiennes. Embora seja visto pela comunidade como um louco e evitado, suas ações e história carregam uma beleza e complexidade que enriquecem o filme. Essa ambiguidade reforça a ideia de que, em um mundo pós-apocalíptico, as linhas entre sanidade e loucura, esperança e desespero, são tênues.

Técnica e Direção: A Marca de Danny Boyle

O filme é visualmente deslumbrante, com uma direção que mistura fluidez, urgência e uma sensação de desorientação que espelha a experiência dos personagens. Uma sequência memorável é a corrida de Spike e Jamie por um caminho de terra, sob um céu estrelado que parece exibir uma aurora boreal — um momento de beleza poética em meio ao caos.

Curiosamente, quase todo o filme foi rodado com um iPhone 15 Pro, um recurso que reforça a proposta de imediatismo e realismo digital, assim como o primeiro “Extermínio” foi pioneiro na utilização de câmeras digitais. Essa escolha técnica influencia diretamente na atmosfera do filme, conferindo uma textura crua e urgente.

Montagem e Referências Históricas

A montagem do filme é dinâmica e multifacetada, alternando entre narrativa direta e momentos alucinados. Uma das intrusões mais interessantes são imagens da batalha de Agincourt, retratada no filme “Henrique V” (1944), mostrando arqueiros medievais em combate. Essa referência histórica dialoga com a regressão tecnológica e mental da humanidade no universo do filme.

Além disso, o trailer do filme utiliza uma gravação de 1915 do poema “Bots ou Botas”, de Rudyard Kipling, que fala sobre a pressão mental e física dos soldados na Segunda Guerra dos Bôeres. O refrão “na guerra não há trégua” ecoa a brutalidade e a constante luta pela sobrevivência dos personagens.

Considerações Finais

“Extermínio: A Evolução” é um filmaço que reafirma o impacto cultural do gênero zumbi, trazendo inovação, crítica social e uma história profundamente humana. Danny Boyle e Alex Garland provam que é possível revisitar um universo já consagrado e torná-lo relevante para os tempos atuais, sem perder a força e o terror que fizeram do original um clássico.

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