O filme “Um Completo Desconhecido”, dirigido por James Mangold e estrelado por Timothée Chalamet, é uma obra que mergulha no início da carreira de um dos maiores ícones da música folk: Bob Dylan. Com uma narrativa que cobre o período entre 1960 e 1965, o filme aborda o mistério e a genialidade precoce que marcaram a trajetória do cantor, compositor e poeta que revolucionou a música americana. Esta análise apresenta a essência do filme, suas qualidades artísticas e alguns aspectos que poderiam ter sido explorados com mais profundidade.
O Gênio que Surge Antes dos 28 Anos
Existe uma ideia bastante difundida, especialmente nas áreas da matemática e da física, de que os verdadeiros gênios alcançam sua grande iluminação antes dos 28 anos. Albert Einstein, por exemplo, publicou sua primeira teoria da relatividade aos 26 anos. No campo da música e literatura, Bob Dylan se encaixa perfeitamente nesse perfil: entre os 19 e 25 anos, ele já havia abalado o meio musical americano ao incorporar temas complexos à folk music, criando dezenas de canções que se tornaram ícones até hoje.
Hoje com 83 anos, Dylan é uma figura reverenciada e enigmática, uma referência incontornável para várias gerações. O filme mostra justamente esse período inicial da carreira, quando ele começou a moldar sua identidade artística e a desafiar as expectativas de todos ao seu redor.
Sinopse e Ambientação do Filme
“Um Completo Desconhecido” é uma biografia musical que, embora conte uma história linear, utiliza elipses interessantes para manter a narrativa dinâmica. A recriação da época é impecável, com figurinos e cenários que transportam o espectador para o início dos anos 60. O filme explora a complexidade do personagem Bob Dylan, mostrando que ele é intencionalmente inacessível, uma pessoa que escolheu nunca ser aquilo que os outros esperavam dele.
O elenco é brilhantemente escalado, com Timothée Chalamet no papel principal, acompanhado por Monica Barbaro, Edward Norton, Elle Fanning, Scoot McNairy e Boyd Holbrook. A direção de James Mangold, conhecido por “Johnny & June”, traz uma abordagem que, embora convencional na forma, é profunda e cheia de tensões no conteúdo.
Personagens e Interpretações
- Timothée Chalamet entrega uma performance cativante, mostrando Dylan como um personagem misterioso e multifacetado.
- Monica Barbaro brilha interpretando Joan Baez, contraponto afetivo e artístico para Dylan.
- Edward Norton dá vida a Pete Seeger com uma doçura rara, representando o engajamento social do folk da época.
- Scoot McNairy interpreta Woody Guthrie, ícone do folk, com uma atuação tão impressionante que merecia uma indicação ao Oscar.
- Boyd Holbrook é Johnny Cash, mostrando a influência e o impacto de Dylan em outras lendas da música.
- Elle Fanning interpreta uma personagem cujo nome foi alterado a pedido do próprio Dylan, simbolizando as diferentes mulheres presentes em sua vida.
Um dos destaques do filme é que todos os atores cantam e tocam seus instrumentos ao vivo, utilizando equipamentos e técnicas da época, o que traz uma autenticidade rara para uma produção biográfica musical. Timothée Chalamet, por exemplo, dedicou cinco anos e meio para aprender a tocar violão, gaita e guitarra, além de cantar no estilo de Dylan, sem jamais cair na imitação.
Autenticidade e Distanciamento
O filme evita excessos de maquiagem ou imitações caricatas. A distância entre ator e personagem é mantida visível, o que paradoxalmente torna o retrato mais genuíno e honesto. Essa escolha reforça a ideia central do filme: Bob Dylan é um enigma, alguém que nunca quis ser completamente conhecido ou compreendido.
Aspectos que Poderiam Ser Mais Explorados
Apesar de todos os méritos, “Um Completo Desconhecido” peca por tratar de forma superficial o contexto histórico e social da época. A Guerra Fria, os assassinatos de presidentes, as crises nucleares e os movimentos sociais, especialmente o movimento pelos direitos civis, são apenas mencionados como pano de fundo. No entanto, esses eventos foram fundamentais para a música e o engajamento político de Dylan, que se tornou uma voz ativa da contracultura.
Essa ausência de aprofundamento é uma oportunidade perdida para conectar ainda mais o personagem à complexidade do mundo em que viveu e atuou.
Conclusão: Um Filme Imperdível para Fãs e Apreciadores de Música
“Um Completo Desconhecido” é uma obra que combina uma direção segura, um elenco talentoso e uma trilha sonora impecável para contar a história de um dos maiores gênios da música contemporânea. Apesar de pequenas falhas, o filme se destaca pela autenticidade, pela qualidade das interpretações e pela sensibilidade com que trata a figura enigmática de Bob Dylan.
Com oito indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e melhor direção para James Mangold, o longa é um convite para mergulhar no universo de Dylan e refletir sobre o que significa ser um artista que desafia expectativas e renova constantemente sua identidade.
Para quem aprecia biografias musicais, especialmente aquelas que valorizam a música ao vivo e a fidelidade histórica, este filme é uma escolha certeira. Ele honra o legado de Dylan e celebra a genialidade que começa jovem, mas que permanece viva por toda a vida.